O SERVIÇO DE PROTEÇÃO AOS ÍNDIOS NA HISTÓRIA DA ESCOLARIZAÇÃO DO POVO KAINGANG (1940-1967)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.4013/rlah.2021.1026.09

Palavras-chave:

Kaingang. Serviço de Proteção aos Índios. Escola indígena.

Resumo

O presente artigo aborda a escola implementada pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) junto ao povo Kaingang, no período de 1940 a 1967, visando compreender a atuação da instituição escolar nas comunidades de Nonoai e Guarita (RS). Resulta de uma tese de doutorado e contou com pesquisa documental no arquivo do Museu do Índio (RJ), e com o registro de relatos orais dos kófa, velhos e velhas Kaingang. A análise dos documentos oficiais e a escuta às vozes dos kofá mostram que a escola, planejada pelo SPI com a intenção de “civilizar”, alfabetizar e difundir ensinamentos agrícolas e cívicos para transformar os indígenas em trabalhadores rurais e desenvolver neles um sentimento de nacionalidade não cumpriu totalmente sua finalidade. A escola efetivamente implementada em Nonoai e Guarita neste período foi fruto de disputas e negociações com as comunidades Kaingang, e os dados evidenciam seu alcance limitado diante do que foi inicialmente anunciado pelo SPI. Indícios apontam que foi a partir da década de 1970 que a escola se expandiu em número e em alcance às crianças.

Biografia do Autor

Juliana Schneider Medeiros, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Doutora em Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestra em Educação (2012) e Licenciada em História (2007) pela mesma universidade. Sua pesquisa de Doutorado, inserida na linha de pesquisa Educação, Culturas e Humanidades.

Maria Aparecida Bergamaschi, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Doutora em Educação e graduada em História. Realizou Pós-Doutorado na Universidade Estadual de Campinas, SP (UNICAMP). É Professora na Faculdade de Educação da UFRGS, onde atua como professora e pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Educação, orientando Mestrado e Doutorado na área de Educação Indígena e Ensino de História. É líder do grupo de pesquisa (CNPq) Peabiru: Educação ameríndia e interculturalidade. Integra a coordenação da Rede Saberes Indígenas na Escola - Núcleo UFRGS. Organizou e publicou artigos e livros sobre Educação Indígena e Ensino de História, tendo experiência nestas áreas, com pesquisas sobre educação guarani, educação escolar indígena e a temática indígena na escola.

 

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Publicado

2022-01-21