Call For Papers
Caro(a) pesquisador(a),
A Questões Transversais - Revista de Epistemologias da Comunicação (ISSN: 2318-6372) (QUALIS A4), informa que a Edição de 2026 (fluxo contínuo), está com chamada aberta.
Mídia e feminicídio: patologias, intersecções e midiatização
(CFP PRELIMINAR)
Editores desta Chamada:
Carmen Hein de Campos (convidada externa à área da comunicação): Doutora em Ciências Criminais pela PUCRS (2013), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC,1998) e pela Universidade de Toronto (Programa de Direitos Reprodutivos, 2007). Graduada em Direito pela Universidade Federal de Pelotas/RS (UFPEL, 1988). É professora visitante no Programa de Mestrado em Direito e Justiça Social da Universidade Federal de Rio Grande (FURG) e professora colaboradora nos Programas de Pós-Graduação em Direito da UFPEL e do Centro Autônomo do Brasil - UniBrasil. Foi professora visitante no Programa de Mestrado em Direitos Sociais da Universidade Federal de Pelotas (2023-2024- UFPEL). É autora de diversos artigos e de livros, tais como "Criminologia Feminista: Teoria Feminista e Crítica às Criminologias", publicado Lumen Juris (2017; 2020).
Claudiane de Carvalho: PósCOM/UFBA. Professora Permanente da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA). CEPAD-UFBA. Rede Midiaticom.
Deivison Moacir Cezar de Campos. PPGCC-PUCRS. Coordenador do curso de Jornalismo e professor permanente no Programa de Pós-graduação em Comunicação Social. Editor QT. Rede Midiaticom.
Luisa Schenato Staldoni. Editora Executiva QT. Rede Midiaticom.
INTRODUÇÃO: O FEMINICIDIO COMO FORMA DE FASCISMO
O feminicídio constitui uma das expressões mais extremas da violência de gênero e deve ser compreendido como um fenômeno estrutural, profundamente imbricado com dinâmicas autoritárias de poder. Como argumenta Rita Segato (2016), o assassinato de mulheres não é um ato isolado ou meramente individual, mas uma forma de violência comunicativa, dirigida tanto ao corpo feminino quanto ao tecido social. O corpo das mulheres torna-se território simbólico de disputa, no qual se inscrevem mensagens de dominação, controle e disciplinamento, especialmente em contextos marcados pela fragilização da democracia, pelo recrudescimento do autoritarismo e pela naturalização da violência como instrumento de ordenação social.
Nessa perspectiva, o autoritarismo na forma de fascismo encontra no gênero um eixo privilegiado de reafirmação do poder. Regimes autoritários — formais ou difusos — tendem a reforçar hierarquias patriarcais, promover modelos rígidos de família e sexualidade e silenciar dissidências, produzindo um ambiente propício à intensificação da violência contra as mulheres. O feminicídio opera, assim, como um mecanismo de pedagogia da crueldade, nos termos de Segato, no qual a eliminação física da mulher reafirma a soberania masculina e estatal sobre a vida e a morte. Trata-se de uma violência que não busca apenas destruir a vítima individual, mas restaurar uma ordem moral autoritária ameaçada por processos de emancipação feminina, pluralismo e igualdade de gênero.
A abordagem interseccional é indispensável para compreender como o feminicídio se manifesta de maneira desigual, atingindo de forma desproporcional mulheres negras, indígenas, pobres, migrantes e periféricas. O autoritarismo não incide de modo homogêneo, mas se articula com racismo, colonialidade, classismo e heteronormatividade, produzindo regimes diferenciados de vulnerabilidade e desproteção. Assim, o feminicídio deve ser analisado como um fenômeno situado na confluência entre gênero, poder e desigualdades estruturais, exigindo respostas jurídicas, políticas e sociais que enfrentem não apenas o crime em si, mas as condições autoritárias que o tornam possível, tolerável e, muitas vezes, invisível.
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Os artigos devem ter como referência a análise dos processos midiáticos nas perspectivas da midiatização (conforme correntes do “sul” e do “norte”). Este será o foco principal a considerar. Serão valorizadas também análise que relacionem a midiatização com análises de processos sociais relacionados a acontecimentos de feminicídio.
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FOCO PRINCIPAL: ACONTECIMENTO MIDIÁTICOS, MIDIATIZAÇÃO E COMUNICAÇÃO
- Instituições não midiáticas (em especial, campo jurídico) e midiáticas (processos circulatórios)
- Configurações discursivas – acontecimento e morte simbólica
- Ator rede e sujeitos em resistências
- Pós hermenêutica e reconstrução da hermenêutica em tempo de IA, algoritmos e plataformas
- Construção midiática de coletivos, redes e atorizações
- A circulação para além do que se diz e do que se faz
- As interações e a comunicação com o feminino
Na análise das mediações, valorizamos análises, em relação com a midiatização, que considere as/os:
- Interseccionalidades
- Relações sociais de produção (economia, cultura e política)
- Mitos fundadores
- Classificações sociais
- Estruturas discursivas e signos do feminicídio
- Instituições e institucionalizações (direitos)
Referências
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GOMES, Izabel Solyszko. Feminicídios: um longo debate. Revista Estudos Feministas, v. 26, n. 2, p. e39651, 2018.
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