A situação atual da caça de lazer e manejo de áreas úmidas no Rio Grande do Sul

Autores

  • Demetrio Luis Guadagnin
  • Luís Fernando Carvalho Perello
  • João Oldair Menegheti

Resumo

A caça de lazer é uma atividade tradicional em muitas sociedades contemporâneas. No Brasil, esta modalidade de caça está regulamentada apenas no Rio Grande do Sul. Dada a continuidade do processo de degradação dos hábitats naturais, o manejo de áreas privadas e formas alternativas de proteção legal, são instrumentos que podem colaborar para as estratégias de proteção da biodiversidade. No Rio Grande do Sul, proprietários rurais e caçadores desportistas manejam lavouras de arroz e áreas úmidas com a finalidade de caça, cuja contribuição potencial para a proteção de áreas úmidas e aves aquáticas ainda não foi investigada. Neste trabalho, descrevem-se as principais formas de manejo de áreas agrícolas relacionadas com a caça de lazer em áreas úmidas da zona costeira do Rio Grande do Sul, as características das áreas naturais sujeitas à pressão de caça e as tendências de adesão à prática da caça de lazer. Arrozais são utilizados como ambientes de caça por 70% dos caçadores e áreas úmidas naturais por 65%. Não houve mudança nos padrões de escolha dos ambientes de caça entre a temporada de caça de 2002 e anos anteriores (?2 = 1,723; p>0,5). Cerca de 27% das áreas de caça receberam um manejo diferenciado para atrair aves aquáticas. O manejo da água (N=48), a suplementação alimentar (N=37) e a vigilância contra caçadores furtivos (N=10) foram as ações mais freqüentes. O arrendamento ou instrumentos menos formais de manutenção de áreas atrativas para aves aquáticas foi praticado por 12% dos caçadores. Nas áreas naturais, a pressão de caça parece obedecer às diferenças de riqueza e abundância de aves de interesse cinegético, que são maiores nas áreas onde existem evidências de caça. O número de praticantes de caça de lazer declinou 93.5% entre 1974 e 2005. Durante o mesmo período, o número de espécies e as cotas de caça foram progressivamente reduzidos. A existência de atitudes de manejo de áreas agrícolas e áreas úmidas naturais por caçadores e proprietários rurais sugerem que existem oportunidades para estimular a capacidade das paisagens agrícolas em proteger espécies, reduzindo os conflitos com atividades econômicas e interesses de lazer. A tendência de declínio da caça de lazer, por outro lado, sugere que cada vez menos áreas privadas tendem a ser manejadas com o objetivo de atrair aves aquáticas. A conservação de aves aquáticas fora do sistema de áreas protegidas depende da implementação de estratégias inovadoras capazes de estimular a conservação e manejo de hábitats favoráveis à presença de aves aquáticas.

Palavras-chave: caça desportiva, caça amadorista, gestão, anatídeos, aves, banhados, recursos naturais renováveis.

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Publicado

2021-06-15

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Seção

Artigos