A Geologia e o processo histórico (ou, sobre como se constrói um passado a marteladas)

Autores

  • Ernesto Lavina

Resumo

A análise da literatura referente ao período Permiano revela uma profusão de teorias contraditórias, especialmente quanto a episódios de extinção, paleogeografia e paleoclimatologia. Isto decorre dos diferentes paradigmas (em sua conotação reducionista e determinista) utilizados por diferentes grupos de pesquisadores, e também das decisões individuais arbitrárias durante o desenvolvimento da pesquisa. A Geologia, enquanto ciência histórica, incorpora um elevado grau de subjetividade, uma vez que não é possível acesso direto ao objeto de estudo. As condições climáticas e geográficas e suas implicações no desenvolvimento biológico de um determinado intervalo de tempo podem ser apenas presumidas, ainda assim considerando premissas uniformitaristas de aplicabilidade incerta. Deste modo, um grande número de teorias compete na tentativa de construir um passado coerente para a Terra. Porém, o conjunto das teorias torna qualquer tentativa de análise uma tarefa extraordinariamente complexa. Por redução, teorias que não se adaptam aos paradigmas de cada grupo de pesquisa são desprezadas, fazendo com que cada abordagem seja internamente coerente, ainda que muitas vezes incompatível com as demais. Apesar disto, conclui-se que o grande número de teorias é algo positivo para a ciência geológica, pois abre possibilidades ilimitadas de análise. Neste sentido, inclusive, questiona-se a emergência do paradigma como algo universalmente benéfico, pois ocasiona o abandono imediato das teorias rivais derrotadas. Estas dificuldades conceituais fazem com que, antes de uma descoberta de laboriosos cientistas, a história geológica seja apenas uma construção racional do cérebro humano e, como tal, sujeita a toda ordem de interpretações e reinterpretações.

Palavras-chave: Permiano, extinções, Reducionismo, Determinismo, Popper, Kuhn, Bachelard.

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