Perspectivas sobre a dignidade no ordenamento jurídico brasileiro: enquadramento sistemático, relação com o princípio democrático e proposta de uma interpretação deflacionária de seu âmbito de proteção

Authors

  • Paula Maria Nasser Cury Ruprecht-Karls-Universität-Heidelberg

DOI:

https://doi.org/10.4013/rechtd.2024.162.07

Abstract

Neste artigo, problematizam-se temas relativos ao princípio constitucional da dignidade a partir de critérios como sua abrangência, posição no ordenamento jurídico brasileiro, justificação no plano da Teoria e da Filosofia do Direito e compatibilização com os direitos fundamentais explícitos e implícitos na Constituição da República de 1988. Procura-se desenvolver a argumentação tendo em vista, especialmente, a relação entre a dignidade e a democracia. Para tanto, recorre-se à análise de literatura e legislação brasileira e estrangeira, sobretudo alemã. A ênfase no Direito alemão não é aleatória. Formulações alemãs acerca do caráter jurídico e da aplicabilidade dos direitos fundamentais têm encontrado grande acolhida no Brasil, particularmente no que tange às decisões judiciais das cortes superiores. Torna-se, portanto, especialmente interessante e importante abordar, teoricamente, o alcance e o contexto em que essas teses vêm sendo abraçadas pela jurisprudência nacional. Ao final, sustenta-se que o âmbito de proteção da dignidade vem sendo hipertrofiado, o que pode levar à perda de sua eficácia ou à inocuidade de leis infraconstitucionais específicas para dar concreção aos direitos fundamentais em determinadas situações. Pondera-se sobre os motivos pelos quais essa tendência interpretativa se instaurou em nosso ordenamento, e formula-se uma proposta interpretativa que deflaciona seu âmbito de proteção como forma de salvaguardar sua função na estrutura da constituição e sua efetividade.

Author Biography

Paula Maria Nasser Cury, Ruprecht-Karls-Universität-Heidelberg

Doutoranda em Filosofia do Direito pela Ruprecht-Karls-Universität-Heidelberg.

References

ALEXY, R. 1994. Theorie der Grundrechte. 2ª ed. Frankfurt am Main, Suhrkamp, 1994, 548 p.

_____. 2016. Human Dignity and Proportionality Analysis. Espaço Jurídico Journal of Law [EJJL], 16(esp):83-96.

BRANDOM, R. 1998. Making it explicit : reasoning, representing, and discursive commitment. Cambridge, Harvard University Press, 768 p.

CAVALIERI, P.; SINGER, P. (eds.). 1994. The Great Ape Project: Equality Beyond Humanity. New York, St. Martin’s Press, 312 p.

CURY, P. M. N.; ÁVILA, F. 2011. Princípios jurídicos. In: P. M. N. CURY; A. T. GOMES; C. N. CAETANO; G. PEREIRA; M. P. PENA; M. CATTABRIGA (Org.), Dicionário de Teoria e Filosofia do Direito. 1ed. São Paulo, LTr, p. 335-341.

CURY, P. M. N. 2013. Die Normativität des Rechts und die Einlösung seiner Geltungsansprüche. Erwagen. Ethik, 4:560-566,

GÜNTHER, K. 2004. Teoria da Argumentação no Direito e na Moral: Justificação e Aplicação. Trad.: Claudio Molz. São Paulo, Landy, 310 p.

KIRSTE, S. 2013. Das Fundament der Menschenrechte. Der Staat. Zeotschrift für Staatslehre und Verfassungsgeschichte, deutsches und europäisches öffentliches Recht, 52(1):119-140.

KIRSTE, S. 2015. The human right to democracy as the capstone of Law. In: GALUPPO, M.; LOPES, M. S.; SALGADO, k.; BUSTAMANTE, T.; GONTIJO, L. Human Rights, Democracy, Rule of Law and Contemporary Social Challenges in Complex Societies. Stuttgart, Franz-Steiner, pp. 11-32.

LADEUR, K-H. 2004. Kritik der Abwägung in der Grundrechtsdogmatik: Plädoyer für eine Erneuerung der liberalen Grundrechtstheorie. Beiträge zur Ordnungstheorie und Ordnungspolitik, v. 170, Tübingen, Mohr Siebeck, 83 p.

Mantzavinos, C. 2016. Hermeneutics. In: ZALTA, E. N. (ed). The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Winter 2016 Edition), Disponível em: https://plato.stanford.edu/ archives/win2016/entries/hermeneutics/. Acesso em 30/out/2018.

MARÇAL, A. C. 2010. Posfácio: Pessoa e identidade pessoal. In: Stancioli, B. S. Renúncia ao exercício de direitos da personalidade – ou como alguém se torna o que quiser. Belo Horizonte, Del Rey, 208 p.

MIRANDOLA, G. P. D. 1998. Discurso sobre a dignidade do homem. Lisboa, Edições 70, 104 p.

OMMATI, J. E. M. 2014. Teoria da Constituição. 3a ed., Rio de Janeiro, Lúmen Juris, 280 p.

STANCIOLI, B. S. 2010. Renúncia ao exercício de direito fundamental – ou como alguém se torna o que quiser. Belo Horizonte, Del Rey, 208p.

TEIFKE, N. 2005. Flexibilität der Menschenwürde? Zur Struktur des Art. 1 Abs. 1 GG. In: BÄCKER C.; BAUFELD, S. (eds). Objektivität und Flexibilität im Recht: Tagungen des Jungen Forums Rechtsphilosophie (JFR) in der Internationalen Vereinigung für Rechts- und Sozialphilosophie (IVR) im September 2004 in Kiel und im April 2005 in Hagen. Archiv für Rechts- und Sozialphilosophie, v. 103. Stuttgart, Franz Steiner Verlag; pp. 142-156.

TEIFKE, N. 2011. Das Prinzip Menschenwürde: Zur Abwägungsfähigkeit des Höchstrangigen. Tübingen, Mohr Siebeck, 200 p.

Published

2025-03-18