doi: 10.4013/ver.2009.23.53.05

Em busca da excelência jornalística na maré multimídia
Looking for the journalistic excellence on the multimedia tide

Miriam L.C. Gusmão
miriamlcg@via-rs.net

Resumo. Este artigo, a partir de um episódio exemplar, analisa aspectos da produção jornalística em tempos de cibercultura e de hibridismos tecnológicos das mídias chamadas de tradicionais no terceiro milênio. Distante da tecnofobia, mas contrário à redução da comunicação à performance técnica, o trabalho pretende somar-se às tentativas de resgate do Jornalismo como atividade essencial de produção social do conhecimento contemporâneo. Entende, portanto, que a atividade requer profissionais especializados, enquadramento normativo, observação qualificada, investigação rigorosa e preocupações humanistas. Nesse enfoque, problematiza a ênfase que vem sendo dada à velocidade, à quantidade, à auto-suficiência do aparato técnico, ao espetáculo e à pseudo-interatividade. Além da crítica, adiciona sugestões para a produção jornalística na maré multimídia.

Abstract. Starting from an example episode, this article analyzes aspects of the journalistic production in times of cyberculture and technological hybridisms of the so called traditional media in the third millennium. Distant from technophobia, but contrary to the reduction of communication to technical performance, this work intends to join in the tentatives of rescuing Journalism as an essential activity of social production of contemporary knowledge. It thus understands that this activity requires specialized professionals, normative framework, qualified observation, rigorous investigation and humanistic preoccupations. With this approach, it puts in a critical position the emphasis that is being given to speed, quantity, self-sufficiency of technical apparatus, spetacle and pseudo-interactivity. Besides the critics, it includes suggestions to the journalistic production on the multimedia tide.

Introdução

Aprimeira década do século XXI corresponde a um novo quadro das comunicações e do sistema de informação em âmbito global, acelerando modificações que já se verificavam na década final do século anterior. São tempos caracterizados pelo intenso uso das redes interligadas - a Internet - e pela convergência de várias mídias, com áudio, texto, vídeo, fotografias e animações no mesmo ambiente digital. Um usuário de computador doméstico precisa unicamente de seu micro para acompanhar programações de emissoras de rádio e de televisão, ler jornais, assistir a filmes, acessar bancos de dados, divertir-se com jogos on-line, conversar com amigos reais ou virtuais, assim como fazer compras, movimentar sua conta bancária e pagar credores. Mais do que isso, esse usuário também pode ser um emissor, produzindo e colocando no circuito o material que lhe aprouver e contando, para isso, com vários portais gratuitos onde pode postar suas produções.

Proliferaram-se pelas redes as comunidades virtuais e os blogs pessoais, os vídeos de produção doméstica, a circulação alternativa de criações musicais e literárias, a emissão independente de notícias e críticas e uma conversa constante entre centenas de usuários que postam sucintos comentários sobre todos os assuntos apresentados nos mais diversos sites e blogs. A transformação do receptor em agente ativo do processo de comunicação já tivera, de certa forma, um primeiro estágio, há alguns anos, com a chegada dos canais de TV a cabo, que possibilitam variadas escolhas de programação. A interatividade viabilizada pelo acesso à Internet aumentou essa participação em grande escala, alterando, aparentemente, o esquema clássico do processo comunicativo – emissor- mensagem - canal - receptor – motivando teorizações e sugerindo a alguns analistas que se configura um novo paradigma das comunicações no planeta e se encaminha um novo momento cultural.

Dentre as análises otimistas em relação ao que pode significar para os seres humanos essa cultura globalizada e de múltiplas interações que estaria em desenvolvimento - a chamada cibercultura – situa-se, com grande ressonância, o pensamento do filósofo francês Pierre Lévy (2000). Ele vê o surgimento de um novo estágio cognitivo e de mais cidadania para o indivíduo, de difusão de uma inteligência coletiva e de maior democratização da sociedade. Defende que a cibercultura representa a terceira etapa da história das sociedades humanas no que se refere às categorias do Universal e da Totalidade. A primeira etapa seria a das pequenas sociedades fechadas, de cultura oral, que viveram ou vivem uma totalidade sem universal. A segunda etapa seria a das sociedades “civilizadas”, imperialistas, usuárias da escrita, que fizeram surgir um universal totalizante. A cibercultura corresponderia à globalização concreta das sociedades, com invenção de um universal sem totalidade.

No que concerne às mídias, Lévy entende que o ciberespaço é uma alternativa vantajosa às mídias de massa clássicas, pois enquanto aquele encorajaria trocas recíprocas e comunitárias, estas praticariam uma comunicação unidirecional para receptores isolados uns dos outros. Outros pontos por ele enfatizados como vantagens do ciberespaço são a possibilidade de livre escolha das informações, conforme sejam os interesses de cada pessoa, e a prerrogativa de qualquer indivíduo postar sua versão dos fatos sem passar pela intermediação dos jornalistas.

Contudo, a linha de análise adotada por Lévy coexiste com linhas frontalmente opostas e com estudos teóricos que enfocam diferentemente o mesmo quadro das comunicações do terceiro milênio. Uma das grandes polêmicas sobre o assunto instaura-se nas redes a partir de meados de 2007, em função de um livro do empreendedor inglês, radicado nos Estados Unidos, Andrew Keen (2009). O livro, editado no Brasil em 2009, é uma crítica que vem de dentro das próprias redes, visto que o autor administra um site e colabora em vários outros. Para ele, a cultura, os valores e setores da economia do ocidente vêm sendo destruídos pelas produções amadoras, as desinformações e a pirataria digital, sendo urgente a necessidade de regulação. Particularmente quanto ao Jornalismo, Keen observa que os jornalistas profissionais atuam, depois de longo preparo, embaixo de limites legais e éticos e do crivo editorial, vão ao local dos fatos, consultam várias fontes e se responsabilizam publicamente pelo material que produzem, podendo inclusive, em caso de desvios, sofrer punições. Acrescenta que, enquanto isso, os amadores trabalham de pijama, não passam por qualquer crivo, prescindem de fontes fidedignas e de limites éticos e podem se manter anônimos.

Por sua vez, o sociólogo francês Dominique Wolton (2007), que desde os anos 80 do século XX estuda o estatuto da comunicação na sociedade ocidental, elaborou uma teoria crítica das novas mídias. Ele discorda dos debates restritos às tecnologias e seus usos, defendendo que o estudo da comunicação precisa se ater a três lógicas que podem ser congruentes, mas que geralmente são autônomas: a técnica, o modelo cultural e o projeto social. Observa que os autores que veem a Internet como uma revolução fundadora de uma nova sociedade estão alinhados com um determinismo tecnológico, em última instância, com uma ideologia tecnológica. A questão central do ponto de vista teórico, segundo ele, não é estar fascinado ou contrariado com a inovação técnica e sua utilização, mas examinar a existência ou não de uma ligação substancial entre essa inovação e uma mudança de modelo cultural e social. Dentro do processo em curso, não se pode chegar a conclusões definitivas, mas, de momento, Wolton não vê no uso individualista das redes digitais e nas interações pontuais que ali se processam alguma ruptura substancial com o estatuto da sociedade capitalista ocidental, moderna, individualista e de massa.

Ao contrário dos autores que confrontam as chamadas mídias tradicionais (como os jornais, o rádio e a televisão generalista) com a televisão temática e a interatividade da Internet, alguns até apregoando o fim daquelas e todos louvando a suposta superioridade das novas mídias, Dominque Wolton as considera indispensavelmente complementares. Mais do que isso, ele reitera a defesa da televisão generalista, com suas modalidades privada e pública, com seus defeitos e virtudes, como um agente de coesão social e de síntese cultural e um dos grandes baluartes da democracia de massa construída pela sociedade ocidental. Essa defesa já havia sido formulada por ele em livro anterior (1996).

De outra parte, numa abordagem que difere completamente da que foi apresentada pelo também sociólogo francês Pierre Bourdieu (1997), para quem a televisão é agente de opressão simbólica, Wolton valoriza a multiplicidade de enfoques coexistentes na televisão generalista, bem como a capacidade de qualquer telespectador para um relativo distanciamento, em lugar da completa submissão a manipulações. A tarefa de ofertar tanto o entretenimento quanto o conhecimento, segundo Wolton, faria a TV generalista oscilar entre banalidades e seriedades, com o saldo positivo de nos permitir suportar prazerosamente a vida ao mesmo tempo em que conhecemos duramente a realidade. Ele ressalva que reconhecer e aceitar essa oscilação não significa supor que a TV não possa melhorar a qualidade da sua programação.

O sociológico não vê progresso na passagem das mídias baseadas na oferta de mensagens para as que vêm sendo elogiadas por se basearem na produção. Ele analisa que o foco numa dessas duas pontas não qualifica, por si só, o processo comunicativo nem o visualiza por inteiro. Acrescenta que a supressão dos intermediários das informações e conhecimentos não é garantia de emancipação para os indivíduos e pode, ao contrário, significar a perda da grande força emancipatória que pode ser a intermediação. Esta traduz e socializa conteúdos complexos, contextualiza, oferece mecanismos e dados para a decifração de mensagens e de eventos. As desigualdades sociais, culturais e cognitivas determinam diferentes competências e não basta o acesso direto à Internet para um indivíduo apropriar-se de competências que lhes são inviabilizadas nas contingências da sociedade heterogênea. De posse das mensagens ofertadas é que os indivíduos poderão interagir com competência.

De fato, o que se tem verificado concretamente, nos últimos anos, é a configuração de um momento multimídia, em que as mídias tradicionais e as novas coexistem e fazem trocas constantes. Notícias jornalísticas reverberam em blogs e sites, assim como veículos tradicionais de comunicação incluem frequentemente blogs entre suas fontes de informação. Mais do que isso, os portais desses veículos na Internet abrigam blogs de seus jornalistas, com o que fica viabilizada a coexistência da mídia de oferta com a de produção interativa de mensagens. O hibridismo tecnológico e a tentativa das mídias tradicionais de incorporarem características valorizadas nas novas mídias têm gerado a adoção de janelas interativas dentro das programações, assim como a valorização extremada da velocidade e do tempo real.

A contribuição deste trabalho é no sentido de se somar às reflexões sobre a produção jornalística dentro desse contexto multimídia e controverso que caracteriza a comunicação na primeira década do terceiro milênio. O intuito é de analisar alguns aspectos significativos observáveis no Jornalismo destes dias e, o quanto possível, agregar sugestões que possam ser úteis para o resgate da excelência jornalística. Dito isso, ficam expostos os princípios norteadores desta abordagem. O estudo está assentado num conceito de Jornalismo que não o confunde com outros processos comunicativos. O foco da observação é o Jornalismo profissional, cuja prática deve ser balizada por princípios éticos e deontológicos e cujo produto, em cada uma de suas realizações, deve estar inserido na função essencial de produção do conhecimento da realidade contemporânea para o maior número possível de cidadãos.

O propósito de contribuir para o resgate da excelência jornalística - que, em última instância, seria a competência de selecionar e tratar as informações como resposta à necessidade do ser humano de compreender o seu entorno e compreender o outro ser humano - traz consigo o pressuposto de que essa excelência tem sido fugidia ou escassa. Isso não quer dizer que se ignore qualidade em muitas produções atuais, mas sim que a complexidade do momento, a rapidez das alterações tecnológicas, a velocidade e a quantidade das informações circulantes, o entorno dos indivíduos expandido para uma realidade global, e o nevoeiro das teorias e ideologias que descaracterizam a profissão têm dificultado o Jornalismo.

A ideia de excelência jornalística que orienta este trabalho, portanto, não se restringe ao desempenho técnico, embora o inclua, mas está diretamente ligada à ética. Esta é entendida em duas dimensões interdependentes: como norteadora das práticas profissionais e como condição primeira para uma vida humanizada. O primeiro aspecto tem sido fartamente subsidiado por profissionais do jornalismo e pesquisadores que têm fornecido importante bibliografia de referência (Costa, 2009; Karam, 2004; Tofoli, 2008). Dentre eles, Eugênio Bucci (2000) observa que o Jornalismo não é uma técnica fria, mas, acima de tudo, é uma ética. Para ele, todas questões referentes ao desempenho jornalístico e à qualidade da informação passam pela ética. Bucci acrescenta que debater abertamente as questões éticas, à luz dos episódios reais, é um serviço de utilidade pública.

Quanto ao segundo aspecto, que liga a ética ao humanismo, nos associamos às ideias do filósofo Emmanuel Lévinas (1993, 2007), no que tange à sua ênfase na questão da alteridade. Diferindo do egoísmo reinante na sociedade ocidental, a proposta de Lévinas de um novo humanismo assenta-se na ética e esta consiste na responsabilidade para com o outro. Dar sentido a tudo o que existe a partir da presença do outro despoja-nos da onipotência de um “eu” que pretende sujeitar a tudo e a todos para ser sujeito. No pensamento de Lévinas, não há essa relação sujeito-objeto, mas equidade. Consideramos que essa abordagem é apropriada por oferecer um outro patamar de relações humanas, talvez de uma natureza bem diversa da “interatividade” por enquanto reinante.

Metodologia

A estratégia metodológica deste trabalho é um estudo de caso, desdobrado em descrição, análise e projeção de possibilidades de ações, à luz das referências teóricas adotadas. O caso escolhido para estudo é emblemático do momento complexo e difícil em que está inserida a atividade jornalística. Trata-se da veiculação, com grandes repercussões e desdobramentos, de uma “barriga”, como é denominada, no jargão profissional, a notícia inverídica, divulgada apressadamente com grande alarde e sem má fé, mas que logo a seguir se mostra inconsistente e provoca desgaste ao veículo e aos profissionais que a veicularam.

Embora em outros momentos o Jornalismo, falível como qualquer atividade humana, tenha produzido algumas “barrigas”, a que selecionamos para análise tem peculiaridades significativas: partiu de um blog, foi adotada por grandes empresas jornalísticas tradicionais, foi veiculada com utilização de modernos recursos tecnológicos, disseminou-se pelos veículos de comunicação de todo o país, desdobrou-se em polêmicas na Internet e levou o governo brasileiro a impasses diplomáticos com o governo suíço. Desse modo, justifica-se a escolha do caso pelo número de agentes envolvidos, pela veiculação multimídia, pelo aparato técnico utilizado e pelas dimensões dos desdobramentos.

Estudo de caso

A edição do dia 11 de fevereiro de 2009 do Jornal Nacional - o telejornal da Rede Globo que, desde 1969, ocupa soberanamente o horário nobre - apresentou uma notícia inquietante. A bacharel em Direito Paula Oliveira, uma brasileira de 26 anos, moradora da cidade de Dubendorf, perto de Zurique, na Suíça, fora atacada, no início da noite do dia nove, por três skinheads neonazidas, ao sair de uma estação de trem. Em conseqüência, ela perdera os bebês gêmeos que esperava. Segundo a narração convicta do noticiário, os três homens eram carecas, estavam vestidos de preto e um deles tinha uma suástica tatuada na parte de trás da cabeça.

Mostrando uma simulação computadorizada da agressão, a narrativa de fundo acrescentou que, armados com um estilete, eles levaram a brasileira para uma área deserta e começaram a sessão de tortura que durou cerca de 10 minutos. No momento seguinte, a apresentadora chamou a repórter da emissora em Recife e as imagens mostradas foram de dois tios de Paula, na residência da família. O tio caracterizou o episódio como mais uma barbárie contra brasileiros no exterior. Seguiu-se a voz da repórter ao fundo e, na tela, fotos de álbum de família, com Paula de toga de formatura e outra em que ela estende para a frente a pequena barriga da gravidez que estaria no terceiro mês. Os dois minutos e 30 em que a emissora abordou o assunto incluíram ainda mapa da Suíça, imagens das ruas de Zurique e, ao telefone, a voz do pai de Paula, que viajara para lá, seguida da voz da cônsul brasileira, que prometia ir às instâncias superiores diante do descaso da polícia Suíça para com o ocorrido. O pai da moça, dentre outras informações, destacou que os agressores haviam talhado no corpo de Paula a sigla SVP, do Partido Popular Suíço, que seria nacionalista extremado e contrário à presença de imigrantes naquele país. A última foto mostrada foi da barriga de Paula com algumas marcas e, sobre ela, o crédito ao blog do Noblat.

Após a veiculação no Jornal Nacional, o desdobramento previsível confirmou-se no dia seguinte, com a notícia estampada nos mais variados jornais do país, sendo que em muitos com chamada de capa. No entanto, na Internet a informação já circulava desde a tarde do dia 11, depois de ter surgido no blog jornalístico de Ricardo Noblat, colunista de O Globo.com, que se tornou muito visitado na rede, desde 2005, por polêmicas notícias de escândalos políticos nacionais. A notícia em foco apareceu no blog destacada com os dizeres “em primeira mão”. O relato taxativo, de versão única, descreveu os fatos como se o autor os tivesse presenciado, tais foram os pormenores mencionados sem fonte. Algumas frases cumpriram a função de assinalar a celeridade da veiculação dos fatos e colocaram em cena pessoas não entrevistadas: “Há pouco, ela estava em um hospital de Zurique. Os médicos ainda não haviam decidido se deveriam esperar que o organismo expelisse a placenta espontaneamente ou se deveriam submeter Paula a uma curetagem”.

Somente depois de todo o episódio relatado é que o texto de Noblat apresentou uma primeira fonte, o pai de Paula, um assessor parlamentar e conterrâneo pernambucano do jornalista. No entanto, a arquitetura do texto não deixou claro que o pai da moça fornecera todos os subsídios para a notícia, pois textualmente o que ele abasteceu foi uma repercussão, um desabafo emocional depois do ocorrido, relatado por Noblat: “O que fizeram com minha filha parece uma história de filme de terror - disse-me o advogado Paulo Oliveira (...)”. A outra fonte que figurou, a seguir, foi a cônsul-geral do Brasil em Zurique, com a informação, também referida no Jornal Nacional, sobre o aparente descaso da polícia suíça.

O texto trouxe ainda três informações interessantes: quando chegaram os agressores, Paula falava pelo celular com a mãe, no Recife; Paula estava pronta para se casar, nos próximos dias, com o economista suíço Marco Trepp, que seria o pai dos bebês que ela esperava; este, chamado por ela logo depois que os agressores fugiram e quando ela havia abortado no banheiro da estação, chegou ao local com socorro e com um investigador. No blog também estavam três fotos de Paula com as marcas que teriam sido feitas pelo estilete dos neonazistas. Não houve congruência entre texto e fotos, pois enquanto aquele informou que braços, pernas, barriga e costas da brasileira tinham sido retalhados, numa sessão de tortura de cerca de 10 minutos, estas mostraram algumas marcas simétricas e sem profundidade, como se fossem meramente arranhões, na barriga e nas pernas, incluindo, nas duas coxas, a sigla SVP bem desenhada, com letras parelhas e traços estáveis.

Foi intensa a circulação dessas imagens e desses dados pelas mídias tradicionais e novas, causando debates, indignação, comoção e motivando editoriais sobre a xenofobia na Europa. Não apenas a imprensa e os usuários de sites e blogs manifestaram-se, mas também o governo brasileiro. No dia 12 de fevereiro, a Agência Brasil divulgou a posição do governo, dando conta de que este havia exigido da Suíça transparência nas investigações. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, convocou o embaixador suíço para uma reunião no Itamaraty e comentou que o caso era “grave e chocante”, contendo uma “aparência evidente de xenofobia”. Por sua vez, o ministro da Secretaria Especial dos direitos Humanos, Paulo Vanucchi, afirmou que o episódio remetia “aos horrores do holocausto”. O Itamaraty admitiu levar o assunto à ONU, dependendo do andamento das investigações. Esse foi o clima dos dias 11, 12 e 13 de fevereiro, incluindo a cogitação de passeata de brasileiros na Suíça, por iniciativa de algumas comunidades do site de relacionamento Orkut.

No dia 14, a indignação começou a arrefecer e as notícias e comentários iniciaram um recuo pelo fato de a polícia Suíça, no dia 13, ter convocado a imprensa e informado oficialmente os resultados dos exames médicos e laboratoriais, segundo os quais Paula Oliveira não estava grávida. Mais do que isso, o relatório solicitado ao diretor do Instituto de Medicina Forense da Universidade de Zurique, Walter Bär, levantou a hipótese de que os ataques não teriam ocorrido e os ferimentos consistiriam em autoagressão. Embora o relatório não tenha sido conclusivo, pelo fato de as investigações ainda estarem em andamento, pela primeira vez o material jornalístico produzido no Brasil sobre o assunto admitiu dois lados da questão e colocou em paralelo as duas versões. Informações anteriores da polícia suíça, veiculadas pela imprensa daquele país, de que Paula teria, num primeiro depoimento, confessado a invenção do episódio não foram investigadas pela imprensa brasileira e apenas rejeitadas como um insulto, numa reação idêntica a dos familiares da moça. Em seguida, a família da moça deixou de desmentir a polícia suíça e passou a trabalhar, com discrição, com o dado de que Paula sofria de lupus e que a doença eventualmente poderia afetar o sistema nervoso e a condição emocional. Essas novas afirmações da família foram simultâneas à iniciativa do Ministério Público suíço de abrir processo contra a brasileira.

Desde o início, essa cobertura jornalística apresentou um viés muito notório e os fatos ficaram obscuros. No dia 12, segundo dia de abordagem do assunto no Jornal Nacional, um correspondente da emissora foi acionado na Suíça e entrou no ar na abertura do telejornal. Mesmo estando no local do fato e tendo a oportunidade de apurar as informações com fontes suíças, esse correspondente, mais uma vez, dirigiu-se ao pai de Paula, que já havia sido fonte na edição da véspera. Além de obter o depoimento emocionado do pai e de dizer que ele sofria pela perda das futuras netas, o jornalista limitou-se a reviver a notícia da véspera, sem acrescentar a ela qualquer informação pertinente e elucidativa, a não ser a amenização da expressão “cerca de 10 minutos de tortura”, que ganhou o substitutivo “pelo menos cinco minutos de terror”. Ele caminhou pela estação de trens de Dubendorf e apontou um lugar ermo, coberto de neve, para onde Paula teria sido arrastada no momento da agressão.

Quanto ao comportamento da imprensa suíça, a BBC Brasil divulgou, no dia 13, uma síntese das abordagens, citando os jornais Neue Zürcher Zeitung, Tages-Anzeiger, Zolothuner Zeitung, News, St. Galler Tagball, Le Temps e La Tribune de Genève. Segundo a BBC, a maior parte dos veículos abordou o caso com cautela, mencionou o ceticismo da polícia de Zurique quanto à versão de Paula, lançou questionamentos sobre o relato e observou que, no Brasil, a imprensa estava se pautando pelos parentes da moça e dando uma dimensão política ao incidente. Duas das questões levantadas referiram-se à perfeição das letras gravadas no corpo de alguém que tentava se defender e ao fato de o suposto ataque ter ocorrido num horário de movimento na estação de trens sem chamar a atenção de ninguém. Levando em conta a síntese da BBC, nota-se que a imprensa suíça, se por um lado soube ponderar, por outro deixou lacunas, visto que não contrapôs as duas versões em igualdade de condições e com fontes dos dois lados.

Em relação aos debates nos blogs, mais de 24 mil comentários sobre o assunto foram postados nas redes desde o período desses acontecimentos até os primeiros dias de março, segundo registro do portal de busca Google. Uma pequena amostra que examinamos deu relativa ideia do teor e da evolução dos comentários. Num primeiro momento, os participantes - cujas assinaturas nos fóruns de discussão variam de “anônimo” para alguns prenomes ou codinomes, com raras postagens com assinaturas completas - centraram majoritariamente suas atenções na questão da xenofobia. Exaltados, fizeram muitas críticas à Europa e aos preconceitos para com os imigrantes. Em certa medida, imbuíram -se de sentimento nacionalista e asseguraram, com orgulho, que o Brasil trata melhor os estrangeiros. Não sem alguma polêmica, pois houve os que criticaram os preconceitos existentes no território brasileiro. Também uma considerável parcela de debatedores, ao mesmo tempo que solidária com Paula Oliveira e com os compatriotas no exterior, mostrou-se irritada com a ação do governo brasileiro na questão. A irritação assentou-se na ligação que fizeram desse caso com a recente negativa de extradição do italiano César Batisti, condenado pela justiça de seu país e abrigado no Brasil. Com ironia, disseram que, por uma questão de coerência, os governantes nacionais agora teriam que respeitar a soberania suíça, estando sem autoridade para exigir providências em favor de Paula.

Um dado relevante foi a quase inexistência de desconfiança em relação aos fatos noticiados e às imagens da brasileira “mutilada”. Até o momento em que a polícia suíça divulgou o resultado dos exames que descartaram o aborto e que indicaram a hipótese de automutilação, pudemos encontrar apenas um ou dois comentários, sem ressonância, baseados na livre observação crítica das imagens e dos fatos. Um deles foi de um “anônimo”, no dia 12 de fevereiro, no blog de Reinaldo Azevedo: “Reinaldo, não está meio esquisito esse caso de agressão? Os ferimentos são estranhos, como é possível fazer ferimentos tão precisos e superficiais em uma pessoa se debatendo? [...]”. No entanto, após essa postagem, o que se seguiu foi a continuidade do debate sobre xenofobia. Quando as notícias vindas da suíça inverteram as evidências e alteraram o foco das atenções é que passaram a surgir comentários críticos, tanto de amadores quanto de jornalistas. Da parte dos amadores, foi possível perceber reiterada irritação com Paula e com a imprensa, num sentimento de terem sido traídos por falsas questões. Houve alguma polêmica quanto à incidência das informações mal apuradas estar mais nos blogs ou nas mídias tradicionais. Da parte de jornalistas profissionais, surgiu a crítica a posteriori, tardia, quanto aos procedimentos jornalísticos inadequados na cobertura desses fatos.

Discussão e conclusões

O caso examinado tornou evidente a ausência de procedimentos elementares da atividade jornalística e mostrou claramente o preço que se paga por essa ausência. Também atestou características dos processos comunicativos deste início de terceiro milênio e nos ofereceu subsídios sobre as relações entre a produção jornalística e a constante conversa dos usuários anônimos da Internet. A questão da impossibilidade de uma leitura autônoma e crítica da imagem da moça mutilada por parte de praticamente todos os envolvidos com o episódio, tanto jornalistas quanto não jornalistas, é um ponto interessante para novos estudos sobre o papel da imagem nos processos comunicativos da atualidade. Por fim, o fato de não ter ocorrido produção de conhecimento e de o episódio divulgado e debatido ter caminhado de uma circunstância obscura para outra nos mostra a insuficiência do aparato tecnológico para a eficiência do Jornalismo e da comunicação em geral. Embora a ferramenta técnica possa auxiliar significativamente a atividade jornalística, fica claro que não é nela que reside a realização da função social dessa atividade.

A pressa excessiva, a alta velocidade buscada para a difusão da notícia impediu o procedimento preliminar da investigação rigorosa. A antiga e questionável preocupação com o chamado “furo” de reportagem, com a notícia divulgada em primeira mão, muito ao gosto da competição empresarial, mas nem sempre à altura de uma informação bem acabada, foi pretendida, nesse episódio, por um blog. Os chamados blogs jornalísticos são um componente positivo no circuito da troca de idéias na Internet, por possibilitarem essa mescla da informação trabalhada e mediada por um profissional do jornalismo com as impressões mais ou menos prosaicas e emocionais da maior parte dos internautas. No entanto, nesse episódio foi exatamente um blog jornalístico que lançou no circuito uma informação ligeira e não trabalhada.

Não se trata aqui de ficar a condenar pessoalmente o jornalista que assim procedeu, pois já ponderamos, neste trabalho, que uma série de circunstâncias atuais podem ensejar equívocos no tratamento da informação. Também se pode supor que houve uma certa generosidade do profissional que, por conhecer o pai da moça, acolheu e se solidarizou com a família na terrível situação descrita, esquecendo o princípio elementar da dúvida, sem o qual não se faz jornalismo. Duvidar de uma versão e buscar versões diversas ou antagônicas, cruzando e confrontando as informações, é um procedimento sempre reiterado nos cursos de Jornalismo. Já nos blogs nada disso costuma ocorrer, até porque não há ali uma equipe de reportagem, uma chefia de reportagem e o crivo de um editor. Pela ausência dessas características, talvez não seja aconselhável a um blog a pretensão do “furo” Em lugar disso, os blogs jornalísticos poderiam reservar-se outras funções de grande proveito social, como a análise de informações e circunstâncias sociais reveladas a partir das redações, produção e difusão de ensaios e crônicas, sugestões de pautas e a própria conversa com os internautas.

O jornalista Laudelino José Sardá, no artigo Quando a velocidade atropela a razão (2007, p. 58-69) traça um paralelo entre a atividade jornalística do tempo da Olivetti com o da Internet. Mesmo que contendo uma certa carga de melancolia que leva o autor a valorizar mais o trabalho da época dos textos datilografados, a abordagem é pertinente pela recomendação que apresenta. Para Sardá, é hora de desacelerar, de evitar a neurose da quantidade, provocada pela enxurrada de informações circulantes, de recuperar a capacidade de filtrar as informações, de selecionar e investigar. Ele observa que, num contexto de grande produção de informações, o jornalista individualmente deveria perceber que não é a única referência em comunicação e que não precisa abarcar todas as notícias. Em síntese, ele se alia em defesa da excelência que começa pelo abandono da pressa e da banalização quantitativa.

Cumpre também analisarmos o fato de a totalidade das mídias, as tradicionais e as novas, terem adotado e propagado a mesma versão do episódio que estudamos. Se um responsável por um blog não possuía as condições prévias suficientes para se aventurar nessa cobertura de tamanhas implicações, como explicar o dado embaraçoso de que veículos de comunicação que contavam com profissionais no local dos eventos e com equipamentos de primeira linha tenham atuado do mesmo modo? Que tipo de explicação podemos encontrar para o fato de um correspondente de uma poderosa emissora ter entrado no ar, em horário nobre, apenas para mostrar os locais vazios onde, três dias antes, teriam ocorrido sérias agressões a uma pessoa? Anestesiados por imagens e espetáculos, os jornalistas brasileiros esqueceram pautas óbvias, como falar com o noivo de Paula, com a mãe que conversava com ela no momento da relatada agressão, com pessoas que trabalham na estação de trens, com alguma fonte da polícia que desse alguma abertura ou fornecesse algum dado minimamente capaz de abrir uma pista, com jornalistas suíços. A pausa para um mínimo de reflexão e observação atenta talvez motivasse outras leituras das fotos que o pai de pai de Paula Oliveira entregara ao blog em que se gerou a notícia.

É possível que o intercâmbio entre mídias tradicionais e blogs, em lugar de uma soma proveitosa, esteja gerando problemas pela inversão das funções de cada um. Blogs querem dar “furos” de reportagem e equipes de reportagem saem pouco a campo, em busca da informação. Mesmo com a anomalia de repórteres inertes no interior das salas de redação, seria possível tentar acionar mais produtivamente o aparato tecnológico para buscar os fatos à distância e não para imediatamente reproduzi-los de forma espetacular, com cenas emocionantes ou simulações digitais.

Como último aspecto – visto que neste artigo não ousaríamos tentar abarcar mais que o possível num único estudo – entendemos que o caso observado nos autoriza a relativizar as teorizações sobre o salto qualitativo que a comunicação estaria experimentando a partir da interatividade que caracterizaria o atual momento. Pelo que pudemos verificar nessa intensa troca de comentários sobre o episódio, os ávidos navegadores da Internet foram mais receptores do que produtores de alguma informação ou reflexão sobre o assunto. Os comentários postados nas redes sempre estiveram pautados pelas notícias, e as reações, no mais das vezes, foram por impulsos emocionais. É correto dizer que as novas tecnologias contêm promissoras possibilidades potenciais para a comunicação humana, mas parece precipitado supor que já estejamos num patamar superior de interação.

Uma interatividade qualificada e efetiva, capaz de gerar desenvolvimento individual e coletivo, não brotará espontaneamente dos circuitos de comunicação. Tudo nos leva a pensar, concordando com Dominique Wolton, que as análises e as tentativas passam pelo contexto social e cultural em que os indivíduos se constituem e interagem. Assim sendo, parece-nos inevitável reiterar constatações há muito feitas por muitos, mas levadas a sério por poucos: a urgência de esforços no âmbito da educação, do fomento à leitura e ao conhecimento. Um processo educativo eficiente habilitaria os indivíduos ao diálogo e à busca, sempre incompleta e provisória, de mais conhecimento. Substituiria a tagarelice superficial e ingênua de nosso tempo pela competência para a interatividade, num patamar ao menos próximo da alteridade pretendida por Lévinas.

Por mais utópicas que possam ser essas afirmativas, são integrantes da utopia de humanizar os indivíduos, as técnicas e a sociedade, num contraponto aos que pretendem tecnologizar o humano e a humanidade. Nessa perspectiva, reiteramos a convicção que o Jornalismo, seja em qual for o suporte técnico, precisa ter em vista a função social da produção e socialização do conhecimento. Este não se constrói a partir de informações inconsistentes, apressadas e unilaterais, o que exige resgatar os procedimentos inerentes à atividade jornalística qualificada. O resgate requer profissionais preparados, treinados e movidos pela ética.

1Doutora em Letras pela PUCRS e Université de Poitiers/França, jornalista formada pela UFRGS. Atualmente, atua como professorade Língua Portuguesa e Literatura Brasileira na educação básica, em escolas públicas do estado do Rio Grande do Sul, desenvolvendo projetos de incentivo à leitura nas comunidades escolares e de subsídios para a competêncialinguística dos colegiais. Email miriamlcg@via-rs.net

Starting from an example episode, this article analyzes aspects of the journalistic production in times of cyberculture and technological hybridisms of the so called traditional media in the third millennium. Distant from technophobia, but contrary to the reduction of communication to technical performance, this work intends to join in the tentatives of rescuing Journalism as an essential activity of social production of contemporary knowledge. It thus understands that this activity requires specialized professionals, normative framework, qualified observation, rigorous investigation and humanistic preoccupations. With this approach, it puts in a critical position the emphasis that is being given to speed, quantity, self-sufficiency of technical apparatus, spetacle and pseudo-interactivity. Besides the critics, it includes suggestions to the journalistic production on the multimedia tide.

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Submetido: 24/07/2009, aceito: 17/08/2009